sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

despedidas

acender o último cigarro é também uma forma de despedida premeditada, junto da sensação paradoxal de querer e não querer fumar e acabar com o maço do dia. eu sinto conviver com esse sentimento rotineiramente, as tais despedidas premeditadas e sensações paradoxais de sim e não, de desejar e repudiar, da insônia e do sono profundo. olho ao redor pra perceber que o tempo inteiro estava olhando de dentro pra fora e não de fora pra dentro - e sim, eu realmente sinto uma diferença nítida entre ambas perspectivas, mas esse julgamento pode estar prejudicado pela minha tendência de brincar com as sutis mudanças nas nossas sentenças jogadas pelo ar. ah, eu sempre me perco nas minhas ilusões fantasiosas, pois acredito no cultivo da criatividade, beleza, assim como da melancolia e dos suspiros sem esperanças. apago meu último cigarro como se fosse o final de mais um ciclo de pensamentos e sensações que habitam dentro de mim, mas a teimosia vai me acordar amanhã e logo virá o desejo de comprar um novo maço, acender o primeiro cigarro e postergar minha despedida, tão premeditada como as chuvas de verão no final das tardes.