quinta-feira, 23 de junho de 2022

a tempestade que faz moradia em mim parece habitar seus olhos, assim como seus longos suspiros. parece aterrorizante encontrar aquilo que está dentro de você mesmo em outro alguém, como se fosse a revelação de algo que há tanto tempo vem sido fantasiado e redecorado por ilusões, canções e novas cores. mas quando eu te vi, eu soube. eu descobri uma sensação da mais estranha familiaridade que até chegou a me arrepiar, assustar e me fazer duvidar de mim mesma. eu tentei nomear essa sensação infinitas vezes, mas percebi que eu a única coisa que eu posso fazer é me conter com o Desconhecido, Irrevelado e Impossível.

domingo, 20 de agosto de 2017

V.

A vulgaridade das palavras parece insuficiente
Quando penso na poesia dos toques e afagos
Mas a vontade de expressar não mente

Repentinamente nos encontramos nesse mundo
Pequeno em suas coincidências
Enorme em seus mistérios

Seus olhos abertos e vívidos
Enquanto suas mãos traçam no ar
E seu raciocínio como o movimento do mar

Mas desde o início você foi uma surpresa
Imprevisível na sua gentileza
E magia

Cada momento novo ao seu lado
Transforma o bruto em delicado
E sinto alguns muros meus desmoronarem

Impressionada com o vai e vem dos nossos corpos
Na sincronia de uma dança que não requer treino algum
No prazer quando os dois
Quase parecem ser um






domingo, 30 de julho de 2017

L.

"Isso não é ruim - disse-me uma vez, olhando para mim sorrindo como de costume - mas é algo a se aprender"



Descubro-me em outro lugar. É como se tivesse acordado num país ou até mesmo num distante universo sem ter notado a longa viagem que percorri. Na realidade, a sensação desse novo lugar veio muito antes de qualquer noção de estar percorrendo tal caminho, mas mesmo assim o percorri - de jeitos esperados ou não, caóticos e de calmaria também. Passei por experiências com os outros colocando-me de tal forma que ao olhar para mim mesma vi outra pessoa, outra forma de cultivar a mim mesma e aos demais. Reconheço a construção de valores, ideias novas e aprendizados em tudo que toco, ouço, sinto e faço nos últimos tempos. Quero gritar naquilo que firmo a minha confiança, minha perseverança e atitude intensa. Quero ter consciência e conhecimento a respeito daquilo que é inseguro e frágil em mim, sem me deixar entristecer ou me desvalorizar sem medida. Tudo isso não é errado, bom ou ruim, mas é algo a se aprender.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Erva daninha

Morangos silvestres que cobrem o campo seco
Pintando de vermelho como sangue fresco
A minha mente torna-se um fundo poço que ecoa:
Desejo, desconheço, receio

As raízes daquilo que anseio aprofundam-se em olhos escuros
Voltam como grandes sombras que devoram-me de dentro para fora
Decifro de pouco em pouco mas ainda renascem e criam-se novos enigmas
E tudo que eu temo desejar me extrapola

Hoje a Lua cheia retorna com a sua majestosa luz
Escondendo num triz sua face obscura
Mas não preciso vê-la para senti-la
Quero suas duas faces, sua completa loucura

Hoje é o dia em que enterro uma parte de mim
Não quero flores, despedidas ou lágrimas
Quero conquistar esses campos, colher os morangos e saborear o sangue
O que persistirá no fim?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

despedidas

acender o último cigarro é também uma forma de despedida premeditada, junto da sensação paradoxal de querer e não querer fumar e acabar com o maço do dia. eu sinto conviver com esse sentimento rotineiramente, as tais despedidas premeditadas e sensações paradoxais de sim e não, de desejar e repudiar, da insônia e do sono profundo. olho ao redor pra perceber que o tempo inteiro estava olhando de dentro pra fora e não de fora pra dentro - e sim, eu realmente sinto uma diferença nítida entre ambas perspectivas, mas esse julgamento pode estar prejudicado pela minha tendência de brincar com as sutis mudanças nas nossas sentenças jogadas pelo ar. ah, eu sempre me perco nas minhas ilusões fantasiosas, pois acredito no cultivo da criatividade, beleza, assim como da melancolia e dos suspiros sem esperanças. apago meu último cigarro como se fosse o final de mais um ciclo de pensamentos e sensações que habitam dentro de mim, mas a teimosia vai me acordar amanhã e logo virá o desejo de comprar um novo maço, acender o primeiro cigarro e postergar minha despedida, tão premeditada como as chuvas de verão no final das tardes.